domingo, 25 de dezembro de 2016

Fellini e Bergman por Liv Ullmann. Participação especial: Giulietta Masina

Federico Fellini, Ingmar Bergman e Liv Ullmann

Bem no clima fim de ano de revirar coisas antigas, folheio ao acaso Mutações, o livro de Liv Ullmann, e paro numa anotação a lápis: "interesantíssimo. A separação em poucas palavras. Sensacional". Era eu, começando os 20 e naquelas de "sabe nada, inocente". É a separação com Ingmar Bergman em duas páginas e, sim, é sensacional, terrivelmente sensacional, diria agora, tantos anos depois. Daí, volto uma página e topo com o encontro de Bergman e Fellini, segundo Liv - e com uma participação especialíssima de Giulietta Masina. É sensacional e vou copiar abaixo:

"Quando ele e Fellini se encontraram, tornaram-se irmãos num instante. Abraçaram-se, riram juntos, como se tivessem vivido a mesma vida. Caminhavam pelas ruas, à noite, com os braços passados pelas costas um do outro, Fellini usando uma impressionante capa negra, Ingmar com seu pequeno boné e um casaco velho.

O jantar em casa de Fellini, quando Ingmar se sentou num canto com Giulietta Masina, a mulher de Fellini, e ela perdeu sua timidez e começou a cantar. Uma voz alta, clara, como a de uma criança.

"Não posso sair da sala um minuto sem que minha mulher faça alguma tolice", disse Fellini, à porta. Ela se levantou depressa. Não respondeu. Através da janela da varanda, vi-a caminhar pelo jardim, colhendo flores das árvores. Mais tarde, entrou novamente e deu uma a cada um de nós. Sorria o tempo todo. 

Mas, quando se movimentava, era nas pontas dos pés - para ninguém notar."

(Mutações - Liv Ullmann)




terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A mesma esquina, três anos depois

Dezembro 2013

Dezembro 2016

A esquina é a mesma: Itu com Bela Cintra. 

A primeira foto foi há três anos, quando começava a demolição do casario que ali vivia há décadas.

A segunda foi tirada hoje de manhã. O prédio está pronto. Eu o detesto.
  








segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

As lições do Último Tango por Maria Schneider


Desencavaram uma entrevista de Bernardo Bertolucci em 2013 com sua “confissão” de que Maria Schneider, enganada por ele e Marlon Brando, entrou de gaiata na famosa cena da manteiga em O Último Tango em Paris.
Ela tinha 58 anos quando morreu em 2011 e abordou o tema várias vezes em suas entrevistas. “Meu Deus, eu não sabia no que estava me metendo”, disse para Garth Pearce, do Sunday Times, em matéria que foi capa do Caderno 2 do Estadão em junho de 1998: “Lições do último Tango”.  E na 2ª página, após, o título “Maria Scheneider não perdoa Bertolucci até hoje” vinha “A atriz acha que caiu numa armadilha ao fazer Último Tango e reclama que foi usada pelo cineasta. De Marlon Brando ela não tinha mágoas.

A ótima entrevista não se detinha apenas no Último Tango, abordava outro escândalo na vida da atriz: o caso com Joana Townsend, “o primeiro em que uma atriz famosa por sua sensualidade nas telas veio a público declarar-se lésbica. Só em 1997, quando Anne Heche declarou-se apaixonada pela comediante Ellen DeGeneres, ocorreu algo da mesma magnitude”. Outro tema é a paternidade: Ela não conheceu o pai, o ator francês Daniel Gelin, até os 16 anos.

Abaixo alguns trechos:

“Parece que Hollywood e os agentes das atrizes não aprenderam nada depois de tudo o que ocorreu; eles continuam a escalar atores velhos para contracenar com atrizes novinhas, nunca ao contrário. Nunca se leva em conta o efeito que essas cenas poderá ter sobre essas jovens e, acredite em mim, mais cedo ou mais tarde esse efeito aparecerá.”

“Nunca perdoei Bertolucci por isso e nunca mais falei com ele. Ele tem uma personalidade forte e manipulativa, nunca tive um bom relacionamento com os homens e, olhando para trás, Bertolucci me usou. Na época eu achava que a nudez era bela e não tinha problemas para tirar a roupa, mas acabei caindo numa armadilha por causa dessa fantasia.”

Maria Scheneider, porém, não sente a mesma animosidade em relação a Marlon Brando, a despeito do fato de ele ter ganho US$ 3 milhões para fazer o filme, enquanto ela recebeu meros US$ 3 mil. “Nós conversamos pelo telefone regularmente e tenho enorme respeito por Marlon Brando, tanto como ator como qualquer pessoa. Nunca houve atração sexual entre nós. Pessoas que eu nem conhecia vinham me perguntar se fizemos sexo de verdade naquelas cenas, o que é absolutamente ridículo.”

Na maior parte do tempo, conversar com Maria é o mesmo que falar com alguém que enfrentou toda uma vida dura de pobreza, infelicidade profunda e promessas não cumpridas. O dinheiro que ganhou no início da carreira foi todo gasto em cocaína e, por pouco tempo, também com heroína. “Eu tentava esquecer quem eu era, no que tinha me transformado. Não estou usando a minha fama em O Último Tango em Paris como desculpa, mas estou aberta a sugestões  e de qualquer forma as drogas são coisas do passado e eu me livrei delas.”

Aqui, duas matérias anos 70, ambas da revista O Cruzeiro. A primeira sobre o relacionamento lésbico citado aqui. Abaixo



Aqui, quando ela esteve no Brasil em 1980. Vale ler a abertura, quer dizer, um bullying vergonhoso. e olha que a revista era "séria": "Como na Geni da música do Chico Buarque, atiraram muitas pedras na Maria Schneider: "Ela não tem nada a mostrar, parece mais trombadinha do que artista de cinema, parece que não sabe que a escova de cabelo já foi inventada..." Chegando ao Brasil para participar, em São Paulo, da semana do cinema francês, Maria Schneider provocou decepção quase geral. A atriz de O Último Tango em Paris, conhecida também como a "menina da manteiga", "não é mais aquela", disseram. Seu corpo de mulher "boa", conforme a linguagem daqueles para quem mulher é algo consumível, sumiu, desapareceu. O que sobrou? Para a maioria das pessoas, sobretudo para os homens que se aproximaram, muitos com propósitos não confessáveis, não sobrou nada. Aliás, sobrou algo que não tem nada a ver com a mulher desejada: alguma coisa sem forma, magrinha, feinha. Indignaram-se: "Mulher, e artista por cima, com aquele ar de moleque desajeitado, onde já se viu? E, além de tudo isso, ela tem a suprema ousadia de esnobar jornalistas. Devia se dar feliz por tudo mundo correr atrás para entrevistá-la."




Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...