quarta-feira, 24 de junho de 2015

Dona crase ganha as redes

Dona crase anda toda boba. Caetano Veloso, via redes sociais, a trouxe ao topo. Dia desses, encontrei esses aforismas sobre a crase escritos por Ferreira Gullar em 1955 (ele tinha 25 anos). Achei curioso, salvei e aqui estão.


Aforismas sobre a crase

Ferreira Gullar

A crase não foi feita para humilhar ninguém.

Maria, mãe do Divino Cordeiro, craseava mal. O Divino Cordeiro, mesmo, não era o que se pode chamar um “bamba da crase”.

Quem semeia crases colhe alexandrinos.

As crases e as insígnias têm a mesma origem.

A boa crase vale ouro.

São Francisco de Assis não ensinou crase aos pássaros. E Zaratustra, que tudo aprendeu com os animais do bosque, veio tomar lições numa Universidade, em Bale.

Crase não enche barriga. Mas quem craseia bem, dorme melhor.

Deus dá crases a quem não tem frases.

O estudo da crase é a metafísica dos tímidos.

Os ditadores não sabem que, em expressões como à bala ou a bala, é indiferente crasear ou não.

A Crase pura é uma deformação perigosa, que rouba à crase sua função social.


Tudo o que pedimos é que nos deixem crasear em paz.

A crase, em si, não é má.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

A história das canções: Amélia

Quem conta é Alcatra, ou melhor, Ataulfo Alves (1909 -1969), na revista A Cigarra, em junho de 1945. Ele compôs Amélia em parceria com Mario Lago, no início dos anos 40. 

                      Como nasceu “Amélia”



Sempre me perguntam: - “Como é, seu Alcatra, que você e o Mário Lago fizeram “Amélia”? (Alcatra é o meu apelido no meio musical, muito erradamente, derivado de “Alcatrão”, devido à minha cor).
Por isto, resolvi contar a verdadeira e simples história dessa nossa música. Regressara eu de uma viagem à minha cidade natal, uma bela e sossegada terrinha de Minas Gerais, quando Araci de Almeida me disse:


- “Alcatra, você quer saber de uma coisa? Eu sugeri ao Wilson Batista para fazer um samba baseado na vida de Amélia e ele até agora não fez. Quer fazer?

- Amélia? Que Amélia?

- Aquela que era mulher de verdade...



E contou-me a tristíssima história daquela heróica mulher que trabalhava sem queixa, sem descanso, e sofria ao lado do companheiro. Gostei da ideia e ao lado do Mário Lago, um dos maiores letristas e também pianista de talento, começou a produção. Pronto, veio o período agudo, o da gravação. Não sei porque, ninguém queria a música. Achavam que ela era bonita, que os versos eram interessantes, mas não era carnavalesca. Decidi, eu mesmo, gravá-la. Se fez sucesso, os senhores podem responder melhor. Seu nascimento e seus aparecimento quase foram tão difíceis quanto a história da mulher que sabia ser mulher de verdade.

terça-feira, 2 de junho de 2015

O Gato Velho

É poema da Patricia Highsmith e está em Os Gatos, uma jóia da L&PM pocket. É pra Ava, que morreu bem velha há exato um mês. A foto foi a última dela "em paz com tudo".



Ava: a última foto
O Gato Velho

Nada foi feito para mim,
Não, nem mesmo a lareira,
Pois algumas vezes sinto frio e não há fogo,
E outras vezes, não me deixam ir até ali.
Sombras me entediam, e se acaso são um mistério
É bem sem graça. Meus ta-tataranetos
Brincam insensatos ao meu redor, mas eu agora já sei
Que os forros das coisas são apenas forros,
E que atrás da porta entreaberta
Há outra sala como esta aqui.
Gosto de sentar com meus olhos semicerrados,
Porque já vi de tudo
E minhas memórias são bem mais interessantes.
Estou em paz com tudo.
Até os camundongos podem vir a poucos centimetros,
Sabendo que aposentei nossa antiga guerra.
Apenas meus ta-tataranetos

Me irritam às vezes, puxando meu rabo,
Esbarrando e escorregando por cima de mim.
Dou-lhe uns bons tapas nas orelhas,
E volto para onde deixei meus pensamentos.
Estou em paz com tudo.

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...