segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Mabel, um retrato íntimo da mana de Caetano e Bethânia

Dona Canô e Mabel em cena do documentário
Vários são os documentários sobre Caetano Veloso e Maria Bethânia, que devem ser os mais retratados da música brasileira. Devo ter visto todos e também li muito sobre os dois. Semana passada assisti Mabel, documentário de Margarida Mamede, que estreou no Canal Brasil, e entrei em contato com revelações inéditas (pra mim) sobre aquela família. Poetisa e educadora, Mabel é a terceira dos Velloso e chegou depois de Nicinha (adotada) e Clara. A família esperava um menino e a vinda de Maria Isabel foi uma “decepção”. Para falar de Mabel, surgem no vídeo os manos famosos e mais Clara, Rodrigo, Roberto e Irene – Nicinha já havia morrido nas filmagens – e também filhos, netos, amigos (Gilberto Gil, entre eles) e ex-alunos. Mabel lembra fisicamente a mãe que aparece em algumas cenas bem caseiras – dona Canô morreu no natal de 2012, enquanto o documentário era realizado. Em uma das sequências, Mabel mostra a sala de santos da mãe.

“A gente cresceu vendo minha mãe cantar e meu pai assoviar e dizer poemas”, diz Mabel. O pai José, que assoviava os dobrados das bandas de música, ninava os filhos andando de um lado para outro de um “corredor imenso”, recitando poemas – não apenas de amor, mas os que lhe vinham à cabeça. Mabel exibe com carinho um caderno com poemas copiados pelo pai, a quem era muito ligada. Oito anos mais velha que Caetano e doze que Bethânia, Mabel revela muito da família antes da chegada dos irmãos . O sobrado em frente, do seo Edgar, o telhado de Adal, a vó paterna que parecia enorme, a vó materna “muito magra, miúda, mas muito ligada”, a tia Ju, irmã do pai e madrinha, que ajudava o pai telegrafista a sustentar os filhos, a “tia de posses” que era casada com o padrinho de Clara, a prima Lindaura primeira a prestar atenção no que ela escrevia.

Uma das histórias mais deliciosas é o berço que o avô mandou fazer para presentear Clara, a primogenita de Seo Zezinho e dona Canô. Esse berço passou para Mabel, para Rodrigo (apenas 11 meses mais novo que a irmã), para Roberto, Irene, Caetano e Bethânia. “A heriditariedade bonita que era dormir no berço de Clara”, diz Mabel. Clara, a mais velha tinha cabelos lisos e louros e Mabel, como todas as meninas de Santo Amaro, era morena e de cabelos encaracolados. Nas rua, todos elogiavam Clara e a menor se sentia rejeitada. Mabel conta essas histórias de um jeito bem dramático e o irmão Rodrigo, com o maior bom humor, lembra o apelido familiar da mana: Carmelita Tragédia.

“Quando eu era menino, Mabel era minha irmã favorita. Olhava para ela com identificação, admiração, inteligente, interessada em assuntos da mente”, diz Caetano que a eternizou na memoralística Genipapo Absoluto: “promessa, poesia, Mabel”. A irmã e Toninho Mesquita namoravam no corredor, falavam muito de poesia, literatura e o garoto Caetano gostava de ficar perto. “Minha irmã, minha comadre, mãe de leite”, diz Maria Bethânia.

As poesias de Mabel (“a felicidade não é hereditária”) vão costurando histórias saborosas. E mais pro final, entra em cena a professora, que por 40 anos ensinou em colégios de Santo Amaro da Purificação e Salvador. Em uma cena comovente que parece saída dos documentários de Eduardo Coutinho, a ex-aluna Amélia Passos, recita um poema imenso que aprendeu com a professora. Sem truques de montagem, baseado apenas em depoimentos, o documentário Mabel revela com sensibilidade e poesia o “bairro da saudade” (passado), de uma mulher encantadora, que completou 80 anos em fevereiro.

O documentário Mabel está sendo exibido pelo Canal Brasil e também está disponível no youtube.



E aqui, Genipapo Absoluto, a canção de Caetano em que Mabel é citada

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