domingo, 9 de março de 2014

Vontade, inteligência, sensibilidade e Proust

Seurat

Abaixo, um trecho de À Sombra das Raparigas em Flor, o segundo livro de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Inteligência, vontade e sensibilidade são protagonistas e a tradução é de Mario Quintana. A partir do final desse parágrafo, é tudo do Proust, na tradução gloriosa de Mario Quintana. 


“(...) Minha inteligência considerava esse prazer muito pouco valioso logo que o teve assegurado. Mas em mim a vontade não participou um único instante dessa ilusão, porque a vontade é a serva perseverante e imutável de nossas personalidades sucessivas; oculta-se na sombra, desdenhada, incansavelmente fiel, e trabalha sem cessar e sem se preocupar com as variações de nosso eu, para que não lhe falte nada do que necessita. No momento de efetuar uma ansiada viagem, no momento em que a inteligência e a sensibilidade começam a se perguntar se realmente valerá a pena viajar, a vontade, sabedora de que essas duas amas ociosas considerariam outra vez tal viagem como uma coisa magnífica desde que não se efetuasse, deixa-as divagar diante da estação e entregarem-se a múltiplas hesitações; e vai tomando as passagens e coloca-nos no vagão para quando chegue a hora da partida. Tudo quanto têm de mutáveis a sensibilidade e a inteligência, tem-no ela de firme; mas como é calada e não expõe seus motivos, quase parece que não existe, e as partes restantes do nosso eu obedecem às decisões da vontade sem dar-se por isso, ao passo que por outro lado percebem muito bem as suas próprias incertezas. (...) “

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