quarta-feira, 21 de agosto de 2013

8 livros nacionais LGBT não-ficção (ou quase)


Uma lista de 25 livros LGBT não-ficção da Flavorwire (link no final) me levou a pensar na produção nacional. Bom, um dos primeiros foi escrito por um argentino, mas se passa todo no Brasil e por isso ele está aqui. E o "não-ficção" não é para ser seguido ao pé da letra, já que alguns deles, avisam os autores, misturam fatos ficcionais. Uma história da homossexualidade, um romance lésbico nos 50/60, A Recife gay do começo dos 60, o cotidiano de um cinema de pegação no Rio, a SP gay dos 80/90, a trajetória de uma drag queen e crônicas da primeira metade dos 90 sobre o lesbianismo. A relação não tem a menor pretensão de ser completa e se lembrar de algum não incluído, é só deixar um comentário que, assim, a lista vai aumentando

Devassos no Paraíso – João Silvério Trevisan 
Livro pioneiro, publicado em 1986 (ao lado a capa original), que faz uma história da homossexualidade no Brasil, do período do Descobrimento até a Aids. . Em 2000, saiu uma edição revista e atualizada. Trabalho de pesquisa extenso, inclui depoimentos de sodomitas ouvidos pela Inquisição, opiniões de viajantes que passaram por aqui, a produção dos escritores que abordaram o tema. Para contar a história da homossexualidade, o autor passa pela antropologia, biologia, medicina e outras áreas. "Este livro não pretende discutir as "causas" da homossexualidade. Tal questão -que historicamente tem obcecado cientistas, psicólogos e juristas- parece-me dispensável e equivocada", explica o autor no capítulo Ser ou Não Ser Homossexual. 

Flores Raras e Banalíssimas – Carmen L. Oliveira
É o livro que inspirou o filme Flores Raras e tem como subtítulo “A história de Lota de Macedo Soares e Elizabeth Bishop”. A urbanista carioca e a poeta americana viveram um romance intenso nos anos 50 e 60, entre o Rio de Janeiro, Petrópolis, Ouro Preto, Nova York. Com um intenso trabalho de pesquisa, a autora narra a relação das duas de modo apaixonante, a partir de depoimentos, versos, cartas, documentos e notícias de jornais. Lançado em 1995, o livro resgatou a esquecida história de Lota, a mulher que mudou a paisagem do Rio com a criação do Parque do Flamengo. “Aquela miúda e franzina criatura toda nervos, toda luz que se chamava Dona Lota”, no olhar de Carlos Lacerda.


ORGIA – Tulio Carella
Tem como subtítulo Os Diários de Tulio Carella Recife 1960 e a narrativa é de escritos íntimos do poeta, ensaiasta e dramaturgo premiado, o argentino Tulio Carella (Lucio Ginarte, no livro). Foi publicado em 1968 e ganhou reedição caprichada em 2012. Lúcio Ginarte chega ao Brasil em 1960 para lecionar teatro na Universidade Federal de Pernambuco. É um quarentão, quase dois metros de altura, casado e que deixa sua terra em busca de novos ares. “Ensinar teatro no Recife? Que é o Recife? Como é possível deixar Buenos Aires por uma cidade perdida na imensidão do continente americano?”.  Na cidade, ele se encanta com os corpos de negros e mestiços que circulavam por seus bares, ruas e cais. As descrições dos encontros têm forte carga erótica.


CINEMA ORLY – Luis Capucho (Interlúdio Editora, 1999)
O título se refere ao cinema de pegação, “no subsolo da Cinelândia, praça tradicionalmente frequentada pelas bichas”. E a primeira frase deixa bem claro o que se vai ler nas próximas 140: “Há muito não vou ao Orly assistir a um filme pornô e pagar um boquete”. E o livro reconstitui esses tempos de no escurinho do Orly, com os frequentadores conhecidos do narrador, travestis. LuisCapucho é também cantor e compositor, teve a música Maluca gravada por Cássia Eller. Uma de suas canções se chama Cinema Orly e ele fez várias outras inspiradas no cinema, que vai citando durante a narrativa despurada, no estilo revelador e sem vergonha. Esgotado, pode ser encontrado no Estante Virtual.



Trem Fantasma – Carlos Hee (Mandarim, 2002)
“Não há ficção nas próximas páginas. Os nomes podem não ser reais. Mas os locais e as situações são pura verdade”, explicita a apresentação. É o ambiente gay da São Paulo do final dos anos 70 e começo dos 80 o tema do livro escrito pelo jornalista Carlos Hee. Os capítulos têm nome dos lugares da época: Medieval, Caneca de Prata, Off, Aquarius, Trianon, Praça Roosevelt, Homo Sapiens, Val Improviso, Bel Ami, Colorido. A sexualidade dos 70 em sua plenitude, mesmo estando nos anos 80, e antes do aparecimento da Aids. Bem no começo, um clube de Nova York que tem como atração “um homem nu deitado dentro de uma banheira cheia de urina”. E uma turma de amigos às voltas com saunas, boates, mictórios e arbustos em noites de drogas, sexo e prazeres fugazes, antes que a barra pese. Esgotado, pode ser encontrado no Estante Virtual.


Risco de Vida – Alberto Guzik 
A São Paulo dos anos 80, seu ambiente cultural e principalmente teatral é o cenário do livro de Alberto Guzik. “Não tive a intenção de escrever um romance biográfico, embora muita coisa incluída nessas páginas tenha acontecido de fato. Misturei fantasia e realidade”, avisa Guzik numa nota ao leitor. São quase 500 páginas de uma narrativa envolvente e no centro de tudo uma história de amor e morte, a do crítico teatral Thomas, trinta e muitos anos, que deseja tornar-se escritor com o bailarino Claudio, 20 e poucos anos. Em volta, o circuito gay e a vida cultural da São Paulo daquele tempo. Quando lançado, Risco de Vida foi elogiadíssimo. Esgotado, pode ser encontrado no Estante Virtual.





Salete Campari, Uma Drag Queen - Ângela Oliveira
A trajetória do garoto nascido em 1969 que saiu de Araruna, interior da Paraíba, e se tornou festejada drag queen na paulicéia. A mãe era professora primária e o pai cavava açudes em terras particulares. Segundo homem e sexto na escadinha de sete filhos, os pais morreram quando pequeno. Sonhava ter um sapato Montreal, que via Silvio Santos anunciar.  O garoto deixa sua cidade de caminhão, para morar com o irmão, dono de um boteco em São Paulo, e a cunhada. Aos 17, “virgem de tudo” o primeiro e “fantasmagórico” amor, um soldado, que o levou pela primeira vez a uma boate gay (Val Improviso). E aos poucos vai entrando na história a poderosa Salete Campari com seu visual Marilyn Monroe. A edição é bem cuidada e a narrativa simples.


Grrrls – Garotas Iradas Vange Leonel (2001)
Textos inéditos e outros publicados na revista Sui Generis, a bem cuidada revista gay da primeira metade dos 90, “sempre conservando esta ótica pós-punk e  pós-feminista”, avisa Vange Leonel na introdução. Polêmicas e bem humoradas, as 42 crônicas têm o lesbianismo como tema. Vange escreve curiosidades sobre personagens históricos (Safo, Joana D’Arc, Virginia Woolf), filmes, personagens da cultura pop e o que rolava na época – as Riot Grrrls, Xena e muito mais cabem no texto saboroso da autora. Em A Gomorra Paulistana, uma divertida “via sacra” pelo circuito bolacha da SP de então.


E. aqui, a lista da Flavorwire: 25 Essential Works of LGBT Non-Fiction
http://flavorwire.com/408340/25-essential-works-of-lgbt-non-fiction/

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Rainha da Sucata: a história por trás de uma serenata

Gianfrancesco Guarnieri, Nicette Bruno e Flavio Migliaccio
É um momento precioso de Rainha da Sucata (1990), em reprise no Canal Viva: desesperado de amor, o sofrido Saldanha (Gianfrancesco Guarnieri) arma uma serenata para reconquistar Neiva (Nicette Bruno), a mãe de Maria do Carmo (Regina Duarte). Ele recruta o quitandeiro seu Moreiras (Flavio Migliacio) para acompanhá-lo ao violão. Além do prazer de ver a cumplicidade de Guarnieri e Migliaccio, velhos companheiros do Teatro de Arena nos anos 60, a cena guarda uma história saborosa. A música da serenata foi composta por Mozart de Abreu para sua noiva Anna, em 1937. Sim, eles são os pais de Silvio de Abreu, o autor da novela.

Silvio de Abreu com os pais
Silvio conta o romance dos pais no livro Um Homem de Sorte: “meu pai tocava num conjunto musical que foi contratado para animar uma casa noturna de Catanduva. Na cidade, conheceu Anna Mestieri, minha mãe, que trabalhava como costureira. Enredo para filme da Metro dos anos 40, não foi nada bem recebido pelos pais da moça, mas eles, apaixonados, venceram as resistências, acabaram se casando”. E eles viveram muitos anos juntos. Mozart faleceu com 96 anos há quatro anos e Anna, com boa saúde, completa 101 anos em dezembro.

Serenata, esse é o nome da música da citada cena, foi gravada por Francisco Petrônio na época da novela, mas Silvio de Abreu fez questão de ter Guarnieri cantando em cena. “O Saldanha não é nenhum Francisco Petrônio, mas tá dando pra quebrar o galho”, comenta rindo Maria do Carmo.


No vídeo abaixo, a cena que, infelizmente, não está inteira. Começa no capítulo anterior, que não encontrei no youtube, mas dá bem a idéia da preciosidade e dos talentos em cena.

sábado, 10 de agosto de 2013

Serge Gainsbourg e Jane Birkin com Elis no Rio



Olho na foto: Bem no centro, Elis Regina com o logo inicial da Apple numa camiseta prafrentex, presente do garotão Steve Jobs. Brincadeira, É Elis, claro, mas a maçã no peito só uma bossa daqueles tempos, outubro de 1971. E a cantora não é a única superstar ali. Repare no casal cheio de charme bem à esquerda. Sim, Jane Birkin e Serge Gainsbourg. Onde estava esse povo todo? No Rio, Festival Internacional da Canção. Elis e Serge eram do júri e Jane veio acompanhar o marido. Ah, Nancy Wilson e Shirley Bassey  (na época de Goldfinger) também estão no retrato (as duas negonas de longo claro).

É divertido observar como os jornais da época apresentaram o casal, um ano após o estouro do "escândalo" Je t'aime moi non plus: Serge sempre irônico e controlando os passos de Jane. 

Aqui, o carioca Correio da Manhã, no sábado, 2 de outubro de 1971:

"... Serge irônico e nervoso. Jane, de calça americana e camiseta de meia, muito à vontade com sua inseparável bolsa de palha e os cabelos irreverentemente soltos sobre os ombros." (tradução: Jane estava de jeans e camiseta)

Melhor a narração da entrevista coletiva"Como Serge já se tornou conhecido por seu sarcasmo, a entrevista se tornou uma guerra, com perguntas insinuantes e respostas evasivas.
A coisa foi a tal ponto que se chegou a perguntar a Serge se era verdade que ele não gostava de mulher.
Enquanto Serge falava, Jane apenas olhava, segurando o queixo com uma das mãos". 



com o título "autor proibido se diz moralista", o Jornal do Brasil (28 outubro de 1971) vai pelo mesmo caminho, 

Jornal do Brasil
"muitos gestos, olhares nervosos, dificuldade em se exprimir e uma constante preocupação com as idas e vindas da mulher, 20 anos mais nova (....), Serge Gainsbourg afirmou ser um individualista com moral rigorosa, que não gosta de ser colocado no movimento mundial de erotismo na arte."

"pálido, de cabelos grisalhos, barba por fazer, no rosto fechado contrastava estranhamente com sua mulher Jane Birkin, ontem à tarde no Hotel Glória o alvo maior dos fotógrafos junto à piscina. 


"Se pareço agressivo é porque adoto essa postura pra preservar minha vida particular - justificou""A impressão que causa nos outros é sempre de irritação, olhar tenso, as roupas escuras contrastando com a palidez exagerada. Serge Gainsbourg é reticente no que diz, tem o andar pesado. Jane Birkin é alta e esguia, ri quase sempre, se diverte com as solicitações dos jornalistas para as poses, depois de consultar o marido"

domingo, 4 de agosto de 2013

A juvenília de Caetano Veloso

Hoje, na coluna de O Globo, Caetano Veloso fala do primeiro show solo, em Salvador, 1965. As lembranças dele chegam a partir da leitura de Billie Holiday e a biografia de uma canção, livro sobre Strange Fruit, que conta ter ganhado em João Pessoa. Já li muito sobre Caetano e não lembro de nada sobre esse show, que tinha a participação de Dedé (ainda namorada) e se chamava Cavaleiro (link no final). Com a coluna na cabeça, lembro um achado recente em meus guardados: uma Vogue especial Caetano. Não encontrei a data, mas deve ser de 1987. Bom, são vários textos interessantes, mas o que interessa aqui é um sobre os primeiros tempos do cara em São Paulo, quando era somente “o irmão de Bethânia”, em 1965, logo após o show de Salvador. Foi escrito por Edmar Pereira, que já faleceu e tive a honra de conviver na redação do Estadão/ Jornal da Tarde, na primeira metade dos 90. E mais: uma das fontes da matéria é Dirceu Soares, jornalista daquela turma de mineiros que fez o JT. Também já falecido, Dirceu Soares foi uma das pessoas (a pessoa) que mais força me deu quando cheguei em São Paulo. E nem preciso fechar os olhos para ouvir agora a voz dele, aquele sotaque mineiro, a me contar bem devagarinho histórias de quando convivia com os então desconhecidos garotos da Tropicália. Em homenagem a ele e a Edmar, segue a citada matéria. 

E olha que doido: abro agora “Críticas de Edmar Pereira” (Imprensa Oficial) e no primeiro parágrafo da apresentação escrita por Luiz Carlos Merten (que eu chamo de “mestre”), encontro o seguinte: “Em junho de 1974, Edmar Pereira, na época um jovem crítico chegado de Minas, publicou seu primeiro texto no Jornal da Tarde, de São Paulo. Era uma ode a Billie Holiday”. Pronto: Havia sim uma ligação com a coluna do Caetano. Tudo fecha, então, porque tudo é fechado, não deve haver espanto. Queria ter escrito essa frase, mas quem o fez foi o Caio Fernando de Abreu numa crônica belíssima: Para embalar John Cheever. Sim, não deve haver espanto.


                                                  Quando eu te encarei
                                                  frente a frente,
                                                  não vi o meu rosto

                                                   Por Edmar Pereira

São Paulo não era ainda seu espelho. E Narciso achava feio e apavorante o reflexo que via, não existia ainda a convivência que destrói os temores, prevalecia a aparência sobre qualquer realidade menos hostil. E o espelho, como via o Narciso ainda inédito, ou quase? Tão magro, tão baiano, cabelos encaracolados, uma blusa de gola roulée. Um pouco depois o famoso paletó xadrezinho, que acabaria se tornando um modelo nacional. Mas isso seria depois, ainda seria muito cedo para o trinfo de Alegria, Alegria. Era ainda antes que corações brasileiros se enchessem de maternal ternura pelo garoto magricela, que coçava a cabeça, sorria sem jeito e acertava todas no Esta Noite se Improvisa. A voz da irmã Bethânia reverberava Carcará na Ipiranga com São João e outras esquinas da cidade, mas Caetano era ainda apenas um discreto coadjuvante de um certo grupo baiano que tomaria, primeiro na surdina e depois ruidosamente, de assalto a música brasileira.

Caetano, Gracinha e Gil
Todos estavam ainda ofuscados pelo brilho do cometa Bethânia. Mas ouvidos atentos e olhos curiosos já eram capazes de identificar Caetano como “irmão dela”, o autor do outro lado do compacto que levara o Carcará a todas as paradas. Caetano anunciava a manhã, o canto do galo, o tempo de buscar uma flor nova, a sua. Mas tão discreto e tão tímido, falando tão pouco e tão baixo que se ouvia muito melhor a metralhadora verbal de Tom Zé, via-se muito melhor a inteligência fascinante de um Gilberto Gil redondinho, cuja enorme simpatia era quase que completamente disfarçada por um cavanhaque pedante. Ouvia-se também mais uma certa Maria da Graça, que os íntimos chamavam Gracinha e já saudavam como a mais afinada voz do grupo, espécie de João Gilberto em versão feminina e juvenil.

Caetano ainda procurava seu rosto. E se ocupava em decifrar enigmas propostos pela esfinge, como a possibilidade concreta de poesia das suas esquinas, onde passeavam meninas discretamente deselegantes. O poeta de Santo Amaro, calçado de sandálias de couro, tinha sobressaltos, e mesmo nas noites de segunda-feira, amparado pelo violão no Teatro de Arena ou nas inconstantes passagens pelo Juão Sebastião Bar, não descobrira ainda como usar seu magnetismo. O jornalista Dirceu Soares lembra desse tempo, entre 1965 e 1966. Lembra do “menino elétrico, vivo, observador, atento a tudo, que era capaz de expressar uma opinião a respeito de qualquer coisa. Mas para quem não conhecia sua intimidade, ele era somente “o irmão da Bethânia”, frase imediatamente entreouvida pelas mesas do Barrouquinho cada vez que ele movimentava sua silhueta magra pela Galeria Metrópole.

Essas lembranças coincidem com as de Paulo Cotrim, jornalista, crítico de comidas, sempre apaixonado por jovens artistas, na época o criador do histórico Juão Sebastião Bar, uma das ilhas de liberdade no revolto mar da ainda jovem ditadura. Cotrim contra que certa vez abrigou Caetano por duas noites no seu apartamento, aliás hiperpovoado: “O Paulo José e o Paulo Cesar Pereio, jovens atores recém chegados do Sul, estavam morando lá. O Plínio Marcos, jovem autor de Dois Perdidos Numa Noite Suja, peça que não era uma das favoritas dos novos donos do poder, também aparecia clandestinamente para dormir. Caetano e seu amigo Macalé tiveram que ficar na sala, não havia outro espaço. Ele levava então uma vida extremamente simples e despojada. Impossível não lembrar de suas sandálias. Ou de que, mesmo aparentemente apagado e feioso, era um espírito aberto, de diálogo agradável e boa cultura.


A primeira imagem de Caetano arquivada pelas retinas de Cotrim “é sua chegada no Juão, em 65, todo tímido e sem jeito. Ele às vezes tocava, era aplaudido quando cantava É de Manhã, mas o Gil chamava muito mais atenção e Bethânia naturalmente já era a grande estrela, fazendo o show Opinião, no TBC. Tinha também a Gal, ainda Gracinha, e todo mundo insistia para que ela ficasse em São Paulo, porque com aquela voz faria certamente uma carreira. Mas ela só falava em saudades da mãe, que ia mesmo voltar para a Bahia, que não aguentava mais... Caetano já mostrava outras canções, mas as pessoas prestavam pouca atenção. 

o link para Lendo: a coluna de Caetano Veloso em O Globo

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

A filha de Mick Jagger, a ex e o trabalho escravo


Você abre o jornal e em meia capa da Ilustrada estão Jerry Hall e Georgia Jagger, a ex e a filha de Mick Jagger, lindas e loiras posando para a Le Lis Blanc. Daí você pensa, mas vem cá, essa griffe não é aquela que, li no fim de semana, está envolvida com trabalho escravo? É, é sim. Bem indecente isso, né.

Googleio e vem uma notícia de ontem (“Jerry Hall, o retorno da top dos 70´s") no site da Lilian Pacce: “As duas posaram para Max Abadian em NY e também estão juntas na campanha de primavera-verão 2013/14 da Le Lis Blanc”. Referência a “trabalho escravo”? Nada. E uma vírgula após o nome da marca e um texto assim “griffe acusada de envolvimento com trabalho escravo” só aqueceria, né. Acorda, Alice!

A próxima no Google (Jerry Hall Georgia Jagger Le Lis Blanc) é da Elle Brasil, que vai estampar as duas na capa da edição de agosto: “Em total sintonia, mãe e filha posaram para as lentes do fotógrafo Max Abadian, em Nova York, usando looks by Le Lis Blanc”. Ah, tem mais: a capa “mostra Georgia e sua inconfundível boca vermelha vestindo top metalizado Bo.Bô”. E aí? Bom, a Bo.Bô é outra griffe envolvida com trabalho escravo. Quer dizer: a ex de Mick Jagger e a filha estão emprestando sua imagem (altos cachês, claro) para griffes envolvidas com trabalho escravo no Brasil (Matéria publicada sábado por O Globo explica o caso). Será que elas sabem? Bom, não são novatas inexperientes atrás de uma graninha extra e devem ter agentes e advogados que investigam as empresas com que vão trabalhar.

A campanha da Le Lis Blanc também é destaque no site da Harper´s Bazar nacional. “ Os cliques da mãe e filha estão rolando no Hotel Surf Lodge, nos Hamptons, Estados Unidos, mesma região onde Cara Delevingne posa para a Bo.Bô”.  Olha aí: Cara Delevingne, “queridinha dos fashionistas” também empresta sua imagem para griffe envolvida com trabalho escravo.

“O que Georgia Jagger, Jerry Hall e Cara Delevingne têm em comum?”, pergunta o Glamurama em 5 de junho. Oba, furo, alguém relacionou as gatas com trabalho escravo. Bem capaz. Nada disso, o site (há dois meses) apenas registrava a agitação fashionista com as campanhas do grupo Restoque, dono da Le Lis Blanc e Bo.Bô, nos Hamptons. Quer dizer: um simples anúncio fashion leva a uma história esquisita, indecente. Tá tudo dominado e há algo de podre no mundo fashion.


Abaixo, os links para a matéria de O Globo sobre o assunto e para todos os sites aqui citados.

Matéria O Globo

Blog da Miriam Leitão, O Globo

Site Lilian Pacce

Site Elle Brasil

Harper´s Bazar Brasil

Glamurama


Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...