domingo, 20 de maio de 2012

The Smiths no vão do MASP



Na tarde outonal de domingo reina o afundar calçadas pelas cidades. As pessoas caminham devagar, não há pressa e a Paulista abandona seu destino de centro financeiro pra ser do povo. Ao afundar as calçadas da avenida, o acaso me leva a um encontro bem num dos cartões postais da cidade, o MASP. A tarde vai pelo meio e os expositores da feira de antiguidades tradicional de todo domingo ali já retiram suas mercadorias. Há um povo lá no fundo, ali no vão do MASP, uma garotada que veste preto, e um som discreto que não identifico. Vou me aproximando e de repente o susto: tem um cara ali pelos 20 anos cantando. Veste camisa azul, jeans surrados, sapato preto, usa topetes e óculos de armação preta. “É o Morrissey”, me pego dizendo pra mim mesmo. E não é que era?


Em volta, umas 100 pessoas, todas bem jovens, algumas vestem camisetas do Morrissey, outras de Joy Division, várias fotografam. É como se eu estivesse em Londres nos anos 80 numa apresentação surpresa do The Smiths (e eu nunca vi The Smiths ao vivo). A cada acorde de canção – só os hits – me pego tocado. Olha que não sou de bandas covers, muito pelo contrário. Talvez o quase cinza da tarde, o inusitado da coisa e tom de descompromisso tenham contribuído para essa espécie de Peggy Sue, a tal volta ao passado que ali vivia, embalado por Heaven Knows I´m Misearable Know, I´m Sorry, This Charming Man, Some Girls Are Bigger Than Others.



Atrás de informações, vou até uma garota com máquina fotográfica que veste a camiseta Morrissey mais linda do pedaço e ela me dá um cartãozinho da Panic The Smiths Cover. O show continua, alguns gritos de Viva Morrissey e aquelas canções, aquelas. Som meio precário e eles avisam que vão tocar até a bateria acabar. Lá pelas tantas, o Morrissey da hora, faz charme: “será que vocês conhecem essa?” e There is a Light That Never Goes Out surge iluminada como sempre. Decido ir embora assim que a canção acabar pra não quebrar o encanto. Não precisou. O show acabou com ela e parabéns pro Morrissey que faz aniversário na terça. Vim caminhando pra casa devagarinho, tocado como se tivesse saído de um show do Smiths. Então a banda cover é boa? Ah, sei lá. Pra mim, naquele momento era como se nem cover fosse. Dez mil vezes Panic The Smiths Cover que Wagner Moura interpretando Renato Russo ao lado dos caras que foram da Legião Urbana e com ingressos a 200 paus.

Abaixo, o link com o site do Panic The Smiths Cover. Tem vários vídeos, mas ainda não vi nenhum pra preservar o “ao vivo” de ainda há pouco.





quinta-feira, 17 de maio de 2012

A cinderela das discotecas


Houve uma vez um produtor alemão chamado Giorgio Moroder, mago dos sintetizadores e um dos inventores daquilo que viria a ser conhecido por música eletrônica. Foi ele quem, na metade dos anos 70, lançou Donna Summer. Com estardalhaço, Love to Love you Baby (e depois I Feel Love) tomou conta das rádio e das pistas de dança – ainda não se falava em discotecas. E provocou um escândalo semelhante a Je t´aime moi non plus, de Serge Gainsbourg e Jane Birkin, anos antes. A ousadia eram os gemidos de prazer de Donna. Quantas vezes ela “gozava” durante a canção? Pronto, nascia a lenda. Claro que não faltou quem dissesse que era fogo passageiro, cantora de um hit só. 

Negra e linda, as capas dos discos de Donna Summer despertavam fantasias. Um dos mais louvados é Four Seasons que tem ela brincando com a imagem de Marilyn Monroe. Logo foi transformada em diva gay.

Longe do produtor midas ela surprendeu com o duplo Once Upon a Time (1977), a história da cinderela em tempos de discoteca e com todas as faixas assinadas por ela. Donna Summer virou o nome quente da música no final dos 70, superando Dionne Warwick, Diana Ross e companhia. Chegou a lançar três discos duplos em menos de dois anos. Vendeu milhões de discos, estrelou filmes e ganhou o Oscar de melhor canção para Moroder com Last Dance, tema de Até Que Enfim é Sexta-Feira. Morreu hoje, ainda nova, aos 63 anos, de câncer e enquanto preparava um disco novo. 



quinta-feira, 10 de maio de 2012

De amores e segredos


No jornal, um amor do poeta espanhol García Lorca mantido em segredo durante 70 anos. É linda (e triste) a história de amor do jornalista e crítico de arte espanhol Juan Ramírez de Luca, que morreu em 2010, com 93 anos. Só aí deixou revelar sua relação de juventude com Lorca e encarregou uma irmã de tornar público os desenhos, cartas, poemas e o diário que mantinha guardados em uma caixa de madeira desde os 19 anos. Vale ler a matéria do El País (link lá embaixo).

Dulce e Marilyn Monroe
Essa história de amor mantida em segredo me levou a uma outra que está no livro Lembranças de Hollywood (Imprensa Oficial), as memórias  de Dulce Damasceno de Brito escritas por Alfredo Sternheim. Jornalista, Dulce foi correspondente dos Diários Associados e O Cruzeiro na Hollywood dos anos 50, o período de ouro do cinema americano. Entrevistou e conviveu com todos aqueles que hoje são mitos: Marlon Brando, Marlene Dietrich, Elizabeth Taylor, Carmem Miranda e conta histórias saborosas deles.





Pela metade do livro, a revelação que ela esperou cerca de 50 anos para tornar pública. Vou copiar aqui tal e qual como está lá:.

Uma data, um compromisso inesquecível em minhas lembranças: 3 de fevereiro de 1954, Paramount Studios, 15 horas. Entrevista marcada no set de As Pontes de Toko-Ri, com Fredric March. Recebida pelo astro na porta do seu camarim, contei que havia me apaixonado por ele aos 4 anos, quando o vi em Anna Karenina, 1935, ao lado de Greta Garbo e, em seguida, em Nasce Uma Estrela, 1937, com Janet Gaynor. Ali mesmo começou um romance entre nós. Ele estava com 57, eu bem mais jovem. Uma difererença e tanto. Ele me chamava Dolce e eu de Marcho. Foi o primeiro homem da minha vida. Esperei cerca de 50 anos para tornar pública essa rápida relação”.

É uma linda história, a da jovem repórter iniciada nas artes do amor pelo ídolo da infância. “Foi o meu único romance em Hollywood. Mas não a minha única paixão”, ela diz mais adiante. Dulce morreu em 2008, com 82 anos, e,  assim como o namorado de Lorca, manteve seu amor embalado na discrição durante décadas. Amores de outros e mais discretos tempos.

Abaixo, o link para a reportagem El amor oscuro de García Lorca, no El País:

Quem quer brincar de boneca? Texto de Vange Leonel

O filme Barbie está por todo lado. E de tanto ouvir falar em boneca, me lembrei de um texto de Vange Leonel sobre elas e fui até grrrls - Ga...