sexta-feira, 16 de março de 2012

Susan Sontag por Annie Leibovitz


Comprei a revista (Esquire espanhola) ao acaso, só pela capa que me chamou a atenção: uma mulher de meia idade com a mão cobrindo o rosto sem botox, um só olho exposto. Só soube que era Annie Leibovitz quando abri a revista em casa e vi as quatro páginas com a fotógrafa nascida em 1949. É uma matéria curta, em primeira pessoa e me chamou a atenção as partes em que ela fala de Susan Sontag. Já li bastante a respeito das duas e assisti ao incrível A Vida Através das Lentes, documentário sobre Leibovitz, mas ali na revista, de maneira simples,direta e tocante, Annie Leibovitz responde questões que sempre quis saber sobre o relacionamento das duas. Abaixo, essa parte do depoimento, traduzida do espanhol. Ah, tem uma coisa: não morro sem ser fotografado por Annie Leibovitz. O cenário já está escolhido: uma escada vermelha, externa num enorme prédio paulistano e Annie ainda não sabe disso. Por favor, não conte pra ela. 

Gostaria de ver meu trabalho mais íntimo nas revistas, coisas como as fotos de minha família ou as fotos de Susan no hospital. Infelizmente é impossível nesse mundo em que vivemos e, embora sei que seja um pouco hipócrita, é uma das razões porque não me identifico em absoluto com tudo o que vejo nas revistas hoje em dia.
Quando conheci Susan (Sontag, sua companheira desde 1990 até a morte da escritora em 2004) era a pessoa adequada para mim no momento adequado. Seu brilho e auto cobrança um ajudaram a dar um passo em frente e tirar o melhor de mim mesma. É algo que nunca poderei lhe agradecer o bastante.
A palavra mais apropriada para o que eu sentia por ela é... amiga. Não é que queira me esconder, e ainda que amantes me pareça uma palavra preciosa, só tento ser sincera com meus sentimentos.
Susan nunca acreditou que fosse sério a coisa de ser mão, acredito que de algum modo me queria só para ela. Quando decidi ter Sarah (sua primeira filha, nascida em 2001) foi uma decisão individual, não conjunta. Ela me apoiou e a queria muito, mas não foi sua decisão.
O que mais me dói na morte de Susan é não ter estado junto com ela quando aconteceu. Quando me despedi, a vi muito mal, mas ela era uma lutadora nata e eu tinha que ir ver meu pai (ele morreu poucas semanas depois de câncer no pulmão), assim que nunca pensei que fosse nossa despedida. E, sem dúvida, foi um momento tão bonito como simples: ambas nos demos um beijo e nos dissemos que nos queríamos, apenas isso. No dia seguinte pela manhã estava no aeroporto e o filho dela me chamou para dizer que havia falecido. Voltei ao hospital  e me encontrei com tudo intocado para que eu pudesse despedir-me, mas em vez disso, a única coisa que me ocorreu foi pegar a câmera e fotografá-la. Suponho que em situações assim a gente se agarra ao que melhor conhece para não enlouquecer. E a verdade é que me alegro de haver feito aquelas fotos, me ajudaram muito a superar sua perda quando me atrevi a vê-las depois.




3 comentários:

Fátima Almeida disse...

você uma pessoa maravilhosa Vilmar, por se ocupar com pessoas tão especiais. Um abraço.

Meg Rodrigues disse...

Olá, Vilmar

Por favor, quem fez a foto (capa) da Annie Leibovitz?
Um abraço

Meg Rodrigues disse...

Descobri quem fez a foto.

Obrigada e tudo de bom.

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